Decisão da Casa Branca reacende tensões entre as duas maiores economias do mundo, pode gerar impactos em escala global e Brasil observa cenário com cautela
Nesta quarta-feira, 16, em mais um capítulo da prolongada guerra comercial entre Estados Unidos e China, a Casa Branca anunciou a imposição de tarifas que podem chegar a 245% sobre determinados produtos chineses. A medida, segundo o governo norte-americano, é uma resposta a ações recentes de Pequim consideradas retaliatórias, além de uma tentativa de conter práticas comerciais desleais e pressionar a China a agir contra o tráfico de fentanilo que é uma substância associada à crise de opioides nos EUA.
Embora o documento oficial não detalhe exatamente como o percentual foi calculado, autoridades americanas afirmam que ele reúne diferentes camadas de taxação que seriam: 125% em tarifas recíprocas, como represália a tarifas chinesas, 20% como punição pela suposta inação chinesa no combate ao fentanilo e tarifas adicionais previstas na Seção 301, que variam entre 7,5% e 100%, e incidem sobre setores considerados estratégicos, como tecnologia, semicondutores, painéis solares e baterias elétricas.
A resposta de Pequim veio poucas horas após o anúncio, quando o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, criticou duramente a decisão americana, dizendo que isso se trata de uma “instrumentalização política do comércio internacional” e ainda exigiu que os EUA esclareçam o método utilizado para calcular o valor total das tarifas afirmando que a China “manterá sua posição firme”.
A escalada das tensões preocupa analistas e empresários dos dois lados do Pacífico. Nos Estados Unidos, setores como manufatura, energia limpa e tecnologia podem ser diretamente afetados, com o aumento de custos e atrasos na produção, já que muitos insumos vêm da China. O impacto pode chegar também ao bolso do consumidor, com possíveis aumentos nos preços de eletrônicos, veículos elétricos e eletrodomésticos.
Do outro lado, a China enfrenta mais um desafio em meio à desaceleração econômica e ao crescente protecionismo internacional. As novas tarifas representam um duro golpe ao setor exportador do país, que já sofre dificuldades para diversificar mercados. Segundo especialistas, a medida pode desencadear uma nova rodada de retaliações chinesas, agravando ainda mais a tensão entre as duas maiores potências do planeta.
Embora o Brasil não seja alvo direto das tarifas, o país pode sentir os efeitos indiretos da disputa. Com os Estados Unidos buscando novos fornecedores e a China tentando redirecionar seus produtos para outros mercados, o Brasil pode ser afetado de duas formas: Uma positiva, ao ganhar espaço em cadeias como o agronegócio, mineração e até manufaturados, e outra negativa, com a entrada de produtos chineses mais baratos no mercado brasileiro, aumentando a concorrência com a indústria nacional, especialmente nos setores de aço, tecnologia e energia solar.
Outro risco, segundo analistas, é a possibilidade de que o conflito resulte em menor crescimento econômico global, o que pode reduzir a demanda por commodities, afetando diretamente as exportações brasileiras.
Com os olhos do mundo voltados para os desdobramentos dessa nova ofensiva tarifária, os próximos meses serão decisivos para entender se estamos diante de um novo ciclo de tensão comercial, ou de uma reconfiguração definitiva das cadeias de suprimento globais.