Resumo
- Compromisso com a mudança: Marina Helou vê a política como ferramenta para transformar infância e sustentabilidade.
- Inclusão e diversidade: Criou a área de diversidade na Natura e defende políticas para mulheres, crianças e meio ambiente.
- Diálogo e união: Acredita no diálogo para superar a polarização e construir uma sociedade mais justa e sustentável.
Marina Helou é uma das vozes mais jovens e atuantes da Assembléia Legislativa de São Paulo, destacando-se pelo seu comprometimento com pautas sociais, ambientais e de inclusão. Formada em Administração Pública pela FGV e com especialização em sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral em parceria com a Universidade de Cambridge, Marina trouxe para a política a experiência adquirida na iniciativa privada, especialmente durante seus oito anos na Natura, onde criou e liderou a área de diversidade. Eleita pela primeira vez em 2018, aos 31anos, e reeleita em 2022 com expressiva votação, Marina é reconhecida pela defesa dos direitos das mulheres, da infância e do meio ambiente. Nesta entrevista exclusiva ao Política SP, a deputada revela suas motivações, desafios enfrentados, principais conquistas legislativas e as perspectivas para o futuro do estado.
Deputada Marina, você começou sua trajetória política ainda jovem, aos 31 anos. O
que a motivou a se envolver na política, e como essa decisão impactou sua vida pessoal
e profissional?
Decidi entrar na política quando entendi que a transformação que tanto buscamos não poderia
vir apenas da sociedade civil ou do setor privado. A política é onde conseguimos efetivar
mudanças estruturais e duradouras, e eu queria participar dessa mudança. Minha escolha foi
motivada pela vontade de fazer a diferença, especialmente em áreas como infância e
sustentabilidade. Claro, essa decisão teve um grande impacto tanto na minha vida pessoal
quanto profissional. Muitas vezes a jornada política exige tempo e energia além do horário
comercial, mas a experiência tem sido extremamente enriquecedora, pois percebo que estou
conseguindo usar minha formação e minha trajetória profissional em prol daquilo em que
acredito.
Sua formação em Administração Pública pela FGV e especialização em negócios e
sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral/Cambridge têm influenciado sua atuação
legislativa? De que maneira?
Sem dúvida. A minha formação foi fundamental para entender como o poder público funciona,
como os processos de gestão pública podem ser mais eficientes e como podemos alocar
melhor os recursos para resultados que impactam a vida das pessoas. A especialização em
negócios e sustentabilidade ampliou minha visão sobre preservação ambiental em sintonia com
inclusão social e geração de emprego e renda. Essas áreas têm sido fundamentais na minha
atuação legislativa, especialmente ao tratar de políticas públicas voltadas para o futuro. A
sustentabilidade não é apenas uma questão ambiental, é uma questão econômica e social, e
isso eu trago para cada decisão que tomo na Assembleia.
Como foi a experiência de trabalhar na Natura e de criar a área de diversidade da
empresa? Esse trabalho impactou sua visão sobre políticas públicas voltadas para a
inclusão e a diversidade?
A Natura foi um marco na minha trajetória. Quando assumi a criação da área de diversidade,
pude entender na prática os desafios e as oportunidades de promover um ambiente inclusivo.
Como uma grande empresa, possui um impacto enorme nas comunidades e, ao mesmo tempo,
uma grande responsabilidade sobre a vida das pessoas, principalmente no que diz respeito à
equidade e à inclusão de mulheres e minorias. Esse trabalho me ensinou o poder que as
políticas têm de transformar realidades, uma experiência que motiva muito dos meus projetos
como legisladora.
Você é autora de várias leis importantes, como a Política Estadual pela Primeira
Infância e a Lei Criança Primeiro. O que a motivou a escolher a infância como uma das
suas principais bandeiras?
A infância é, sem dúvida, a fase mais crucial para o desenvolvimento de qualquer ser humano.
Sabemos que, quando uma criança tem acesso a uma educação de qualidade, saúde,
alimentação e um ambiente seguro, ela já parte para a vida com muitas vantagens, pois tem a
base para alcançar seu potencial máximo. A Política Estadual foi construída para garantir que
todo o estado tenha diretrizes claras para que esses direitos sejam cumpridos, conforme obriga
o ECA.
A Política Estadual do Manejo do Fogo e a sua atuação na área ambiental são
fundamentais para o estado de São Paulo. Quais os maiores desafios para implementar
políticas públicas eficazes nesse setor, especialmente com relação à preservação e ao
combate ao fogo?
Sem dúvida, a vontade política para implementação de políticas públicas efetivas, integradas e
de longo prazo. O combate ao fogo no estado de São Paulo, por exemplo, exige uma
abordagem conjunta, que envolve desde ações de prevenção, passando pela educação
ambiental, o fortalecimento da fiscalização e a criação de sistemas de alerta. Hoje tenho
clareza de que as políticas ambientais devem ser tratadas como um elemento central da
discussão política, pois estão profundamente entrelaçadas com o impacto do meio ambiente na
qualidade de vida das pessoas, em aspectos urbanos, sociais e de saúde. Esses desafios
exigem uma abordagem interdisciplinar. A pauta ambiental é a pauta do futuro, e por isso tem
que ser também a do presente.

Em relação à segurança pública, quais medidas acredita serem mais urgentes para
garantir a proteção de todas as pessoas, em especial mulheres e meninas, que ainda são
as principais vítimas da violência?
Precisamos de uma abordagem que combine prevenção e punição, mas que também coloque
a vítima no centro da política pública. Em relação à segurança, acredito que a primeira medida
urgente é o fortalecimento da rede de proteção às mulheres, com mais delegacias
especializadas, casas abrigo e assistência psicológica. Devemos também investir em
programas de prevenção nas escolas e nas comunidades, pensando em educação sobre
igualdade de gênero e no combate à cultura da violência. Por fim, mas não menos importante,
investir na capacitação da polícia, em um modelo de atuação voltado para a resolução de
conflitos de maneira não violenta, com foco na proteção da vida.
Você é uma grande defensora da participação das mulheres na política, tendo
co-fundado a organização Vote Nelas. Como enxerga a evolução da presença feminina
na política brasileira e quais barreiras ainda precisam ser quebradas?
Vejo com otimismo. Estamos conquistando mais espaços, mas esse é um processo gradual.
Quando participei da fundação do Vote Nelas, meu objetivo era justamente dar visibilidade e
apoio a mulheres que desejam entrar na política. As barreiras são muitas: desde a falta de
recursos para campanhas até o preconceito e a violência política de gênero. Precisamos agora
garantir que as políticas públicas atendam de maneira efetiva às necessidades das mulheres,
especialmente em áreas como saúde, educação, segurança e geração de emprego e renda.
Quais políticas públicas acredita que são essenciais para garantir a vida segura de
mulheres e meninas em São Paulo?
Precisamos expandir a rede de apoio e proteção às mulheres em situação de violência, com
mais casas-abrigo e centros de atendimento psicológico e jurídico. Uma outra questão
importante é a implementação de políticas públicas que garantam autonomia econômica para
as mulheres, como apoio a empreendedoras e programas que promovam a equidade salarial.
Em relação aos seus projetos de lei, como a coautoria da política de distribuição
gratuita de remédios à base de canabidiol, como tem sido a receptividade dessas
iniciativas por parte da sociedade e do governo estadual?
A política de distribuição gratuita de remédios à base de canabidiol é um passo importante para
garantir que todos, independentemente de sua condição econômica, tenham acesso a
tratamentos eficazes. A receptividade tem sido positiva, mas sabemos que a implementação é
um processo contínuo, que exige mobilização e diálogo constante com o governo e a
sociedade civil.
Com a experiência adquirida até agora, quais são os seus principais projetos para os
próximos anos de seu mandato? O que ainda falta ser feito para garantir uma sociedade
mais justa e sustentável?
Estamos acompanhando de perto a implementação da lei que proíbe o uso de celulares nas
escolas de São Paulo e, na sequência, o foco do mandato estará na COP 30. O evento que
acontece no Brasil vai discutir um dos temas mais importantes para o futuro da sustentabilidade
no mundo, o financiamento climático, e o estado de São Paulo precisa ter um papel de
protagonismo nesse debate. Esse encontro vai conectar questões fundamentais para o meu
mandato, e acredito que inaugura um enfoque na relação entre criança, natureza e mudanças
climáticas, tema que deve guiar nossa ação nos próximos anos.
Você acredita que a política baseada no diálogo, que tanto defende, pode ser uma
solução para reduzir a polarização e os conflitos que marcam o cenário político atual?
Quais desafios e oportunidades você vê para esse modelo político?
Acredito profundamente que essa é a chave para avançarmos em um país tão diverso e
complexo como o Brasil. A polarização é prejudicial, e o único caminho para superar isso é a
construção de pontes, escuta ativa e o compromisso com o bem comum. O maior desafio é
romper com a lógica de confronto constante, que muitas vezes predomina no cenário político, e
garantir que as pessoas estejam dispostas a ouvir e a negociar soluções. Eu acredito que, se
conseguirmos renovar a política, podemos criar um Brasil mais unido, com mais oportunidades
para todos. A oportunidade é gigante para a democracia.