O ex-ministro José Dirceu (PT) foi identificado como um dos alvos de um plano clandestino de assassinato elaborado por militares no fim do governo Jair Bolsonaro (PL), segundo reportagem publicada pelo jornal Folha de São Paulo. O nome de Dirceu aparece sob o codinome “Juca” no plano denominado “Punhal Verde Amarelo”, idealizado pelo general da reserva Mario Fernandes.
A informação foi confirmada por duas fontes com acesso às investigações conduzidas pela Polícia Federal. Um oficial da reserva próximo ao general Fernandes também apontou que Dirceu era visto como possível figura influente na futura gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo sem exercer cargo oficial.
O plano, revelado em meio às investigações sobre uma tentativa de golpe de Estado em 2022, previa ações violentas contra quatro alvos. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, era o principal objetivo, enquanto os demais alvos eram identificados por codinomes: “Jeca” (Lula), “Joca” (o vice-presidente Geraldo Alckmin) e “Juca” (agora associado a Dirceu).
Embora o nome de Dirceu não tenha sido formalmente confirmado nos documentos da PF, o histórico de influência do ex-ministro no núcleo duro do PT levantou suspeitas. Outros nomes, como os ministros Flávio Dino (STF), Rui Costa (Casa Civil) e o chefe de gabinete Marco Aurélio Ribeiro, também foram considerados como possíveis identidades do “Juca”.
Segundo o plano, a eliminação de Dirceu seria estratégica: ele é descrito como a “eminência parda do 01 [referência a Lula] e das lideranças do futuro governo”. A neutralização dele, segundo o texto, desarticularia setores mais radicais da esquerda. Fernandes ainda avaliava que sua morte não geraria “grande comoção nacional”.
Além disso, o plano previa o envenenamento de Lula para provocar um “colapso orgânico”, considerando o “estado de saúde e as idas frequentes a hospitais” do presidente. Já a morte de Alckmin teria, segundo o general, o efeito de extinguir juridicamente a chapa eleita, favorecendo uma eventual retomada de poder por forças ligadas ao PSDB.
Apesar da gravidade do plano, o advogado de defesa de Mario Fernandes, Marcus Vinicius Figueiredo, afirmou que seu cliente nunca compartilhou o documento com ninguém. A Procuradoria-Geral da República (PGR), no entanto, contesta essa versão. Na denúncia formal apresentada ao STF, o procurador-geral Paulo Gonet sustenta que o então presidente Jair Bolsonaro teve conhecimento do plano e deu seu aval.
A PGR também associa o plano “Punhal Verde Amarelo” a outras ações clandestinas que visavam Alexandre de Moraes, como a compra de celulares descartáveis para monitoramento ilegal, no âmbito da chamada operação “Copa 2022”.
As investigações seguem em curso, com foco na identificação de todos os envolvidos e na análise do grau de conhecimento e envolvimento das altas autoridades do governo anterior nos atos planejados.